COM MICHEL FOUCAULT NUMA MESA DE BAR
Autor – Carlos Barros
Ontem, numa mesa de bar, fiz a seguinte indagação a Michel Foucault: o que é pior, uma visão que generaliza acontecimentos políticos isolados, ou uma visão reducionista dos acontecimentos políticos?
O filósofo francês, que parecia um pouco apressado, tomou um gole de vinho e respondeu.
– Acho pertinente a sua questão, especialmente em seu país, pois enquanto lançam vaias sobre a Presidenta do Brasil, pagam em torno de 400 reais para gritarem a favor da seleção do Brasil. Por favor, nada contra este belo esporte! Mas esta tem sido a minha hipótese, ou melhor, meus devaneios de filósofo: Depois da Revolução Francesa (a de Danton), da Revolução Russa (a de Lênin) e da revolução cubana, vivemos a era do reformismo capitalista. Dos anos 60 pra cá você já viu manifestações contra o capitalismo ou contra a propriedade privada e a favor do socialismo? No seu país e em outros da América latina, quem lutou por tudo isso agora descansa algemado no fundo do mar. Obviamente que não sou contra as lutas de perfil cultural, apenas acredito que tais lutas estão dentro da ordem capitalista, ou melhor, dentro da ordem do discurso. Enquanto lutam contra o aumento de passagem, pela sobrevivência da floresta amazônica, pelo rio São Francisco, pelo casamento gay, por carteiras estudantis ou contra o aumento da entrada no cinema, a ordem capitalista agradece – e até apoia -. Não se esqueça de que o poder não se concretiza, não nos atravessa apenas pela repressão, mas também pela sedução e pelo prazer (Meu caro Sigmund Freud adoraria esta parte de minha fala). Eis a questão, meu caro, relações de poder! Talvez esteja aí a tal revolução que devemos focar. Bem, peço-lhe desculpas, mas ainda tenho um encontro com meus amigos Nietzsche e Gilles Deleuze. Vamos beber vinho (Nietzsche só bebe água) e fumar até o dia nascer. Fique bem!
Apertei sua mão e fiquei só. Meditava em cada palavra dita por Foucault. Retornei para casa com a cabeça pesada. Questionava-me se a utopia morreu. Decidi que ainda vale a pena sonhar… Ou não?
Autor – Carlos Barros
Saberes e Olhares
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Gostei , principalmente da parte onde é observado que ”eles pagam até 400 reais para gritar”..
Grato por seu comentário, Paulo. Seja sempre bem-vindo ao meu Site. Grande abraço! Carlos Barros
Belíssimo, texto. Profundo e transitório!
Sou apaixonada por Foucault.
Obrigada, por me permitir ler esse texto fascinante!
Vânia, compartilho da mesma paixão por Foucault. Agradeço muito pelo carinhoso comentário. Seja sempre bem-vinda à minha Página. Abraços do amigo Carlos Barros.