À MEIA NOITE
Por Carlos Barros
À meia noite no teatro do imaginário. Dos vampiros despertando para a vida eterna no sangue morno. Das fantásticas histórias infantis. Lobisomens. Bruxas voadoras. Florestas sombrias. Monstros escondidos. Estranhos seres de silhuetas indecifráveis. Dos mortos e suas almas penadas. Correntes arrastadas por assombrações perdidas.
À meia noite no teatro dos Homens. Do medo do escuro. Medos obscuros. Dos estranhos andarilhos sem destino. Dos bêbados falantes. Dos drogados viajantes. Das prostitutas sinuosas. Da luxúria comprada. Do pecado na turva noite de céu negro. Dos jovens rebeldes. Tribos urbanas girando motores. Das leis noturnas. Da pervertida contravenção. Dos normais bebendo o cálice da loucura.
À meia noite o masculino embriagado. Pela insônia que entorpece. Pelas lembranças passadas. Pelos projetos futuros. Pelo vazio do instante. Pela busca do sentido. Pela vida virtualizada.
À meia noite o feminino chora. Pelo o amor que se foi. Pelo presente ausente. Pelo medo do masculino que mata. Pelo sonho não sonhado. Pelo dia sem sonhos compartilhados. Pelo real imaginado. Pelo orgasmo desejado.
À meia noite a vergonha veste-se de coragem. O tímido torna-se herói anônimo. Os super-heróis perdem a identidade. Os bandidos beijam a autenticidade.
À meia noite os anjos da guarda se protegem. Os demônios observam. Os deuses adormecem.
À meia noite o bem e o mal se confundem. O bom e o ruim contemplam os céus. A bela e a fera gozam sem pudor.
À meia noite os pássaros calam.
À meia noite os cães uivam de alegria.
Por Carlos Barros
Saberes e Olhares
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