LEMBRANÇAS DE UM AMOR
Autor Carlos Barros
Do encantamento. Da cumplicidade. Das almas compartilhadas. Das mãos tocadas e dedos entrelaçados. Dos leves sorrisos. Das altas gargalhadas. Daquele singelo amor. Dos beijos românticos perante o luar. Dos sussurros orgásticos acompanhados do hálito morno. Das primeiras carícias. Dos olhos entreabertos. Da luxúria entre quatro paredes.
Das bocas molhadas e seus gemidos. Dos corpos suados, marcados por unhas e dentes. Daquele sexo selvagem que fazia da dor um prazer. Das palavras ditas sem razão. Das promessas de paixão eterna. Do ansiado orgasmo ardente. Daquele gozo que nos deixava dormentes e adormecidos.
O fim anunciado. Dos encantos que ainda nos prendia. Da vida que seguia. Da rotina que nos perseguia. Das línguas secando. Dos lábios esquecidos. Do amor arrefecendo e do desejo que não mais gritava. Das palavras que foram silenciando. Das primeiras palavras de adeus. Das últimas palavras e do silêncio que ficou.
Do início da saudade. Do céu negro, noites turvas sem lua. Dos corpos e suas lembranças. O corpo que se foi e o desejo ainda plantado no coração. Das lágrimas na solidão. Da cama vazia. Do quarto calado. Dos gemidos e promessas esquecidas.
Atormentado pela perda. O luto é o companheiro inseparável. Lembrar-me-ei de esquecer. Serei juiz e réu no embate entre razão e coração. O futuro e a vida aguardam o veredicto. É o momento de não lembrar o que foi escrito. Eis que é chegada a hora de esquecer as lembranças de um amor.
Autor – Carlos Barros
Saberes e Olhares
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Somos reféns da mentes que nos recheiam de lembranças. E momentos recheados de sentimentos bons e ruins que essas lembranças nos trazem. Aida acredito no fechar das janelas para lembranças ruins, levar apenas a lição do que a nossa passagem nos ensina. E, pelos nossos erros, pagarmos, tal qual uma dívida, parcelada a perder de vista até ser transformada na frase “não farei mais”. Mas será que não faremos? Será que não vivemos num eterno retorno (parafraseando Nietzsche), quando cometemos sempre e sempre os mesmos erros? Continuemos no ciclo, acumulemos nossos calos, fechemos janelas e apenas vivamos, porque a única coisa que temos é esse momento que escrevo, o que você lê… o momento presente.
Parabéns belo texto, você sempre a retratar vivências da alma humana, a carga de emoção que você “empresta” a eles carrega angústias, anseios, medos, de quem os vivenciou. Mas é esse o papel do poeta.
E nesses momentos vale ler estes trechos do poema Praia do Caju por Ferreira Gullar:
Escuta:
o que passou passou
e não há força
capaz de mudar isso.
Nesta tarde de férias, disponível, podes,
se quiseres relembrar.
Mas nada acenderá de novo
o lume
que na carne das horas se perdeu.
(….)
Mas a distância é vasta
tão vasta que nenhuma voz alcança.
O que passou passou.
Jamais acenderás de novo
o lume
do tempo que apagou.
Sim, Alba. Fragmentos do pouco que aprendi e continuo aprendendo. E não poderia ser mais belo do que nos trazer à lembrança o Grande poeta Ferreira Gullar. Grato! Forte abraço! Carlos.
Você traduziu com palavras todo sentimento de um relacionamento desde o seu início até o seu fim… lindo e dolorido.
Tristemente encantada!
Um abraço,
Marley
Luciana, seu comentário me deixa bastante feliz. A vida é encantamento e, à vezes, sentimentalmente contraditória. Obrigado pelo carinho e seja sempre bem-vinda! Abraço forte! Carlos Barros
Eu q agradeço, por ter me permitido fazer parte aqui.
Tarde proveitosa.
Obrigado, Jandira. Forte abraço! Carlos Barros